As mulheres vêm conquistando espaço em cargos de liderança e, ainda que tenha havido crescimento em relação à inclusão feminina no mercado, ainda há muito a ser feito para garantir a igualdade de oportunidades e a equidade de gênero. Em 2021, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que apenas 37,4% dos cargos gerenciais no Brasil são ocupados por mulheres.

No nosso setor, números positivos foram divulgados pela plataforma de contratação Gupy, que registrou um aumento de 229% no volume de contratação de mulheres na área de logística em meio a pandemia da Covid-19. 

Em contraponto, quando falamos de caminhoneiros, uma das funções mais marcadas pela presença masculina, as mulheres representam somente 0,5% do total desses profissionais no Brasil, segundo estimativa da Confederação Nacional do Transporte (CNT)

Patrícia Prando, Diretora de Operações da ALD Automotive Brasil, conversou com a Rabbot sobre sua trajetória profissional, desafios e como ela vê o setor em relação à inclusão feminina. Confira a entrevista a seguir.

Quando e como surgiu o seu interesse pelo setor de mobilidade? Como foi sua trajetória profissional até chegar à diretoria de operações da ALD?

Eu sou da área ambiental, por conta da minha formação em Engenharia Química. Trabalhava com consultoria de remediação de áreas contaminadas e comecei na ALD por indicação de pessoas que já haviam trabalhado comigo.

Entrei na ALD em dezembro de 2015, na área de precificação. Também já trabalhei na área financeira de outra empresa, então dei continuidade a algo que também estava habituada. Fiquei na posição por mais ou menos um ano e meio e fui crescendo. Virei supervisora de pricing e, no final de 2018, virei gerente. 

Sempre tive muita conexão com o pessoal de operações, isso foi me dando uma visão bem macro da empresa e de como os processos se conectavam. 

Atuei como business partner na troca do sistema de backoffice da ALD, expandi minha atuação no financeiro e, logo depois, por movimentações internas de pessoas na organização, surgiu a oportunidade de migrar para a área de operações. Em um primeiro momento, não era algo que eu estava esperando, era diferente do que eu já tinha tido algum tipo de contato, mas achei que fazia sentido para mim, encarei o desafio e estou atuando em operações já vai fazer um ano e dois meses.

Patrícia, e dada toda a sua trajetória, imaginamos as barreiras e desafios que você, jovem e mulher, enfrentou na sua carreira num setor tão marcado pela presença masculina. Que aprendizados você teve e continua tendo na sua jornada que acha importante compartilhar para inspirar e fortalecer outras mulheres que trilham o mesmo caminho?

Quando a gente mostra resultado na prática, mostra que está agregando valor para empresa, é mais difícil sentir algum tipo de preconceito por ser mulher. Por eu estar há bastante tempo na ALD e as pessoas acompanharem meu crescimento e o resultado do meu trabalho aqui dentro, entendendo o porquê de eu ter chegado onde estou, tenho essa sensação de que não preciso me provar, já que os resultados falam por si. Até mesmo quando migrei para operações, em um time de gerentes e superintendentes majoritariamente homens, não senti nenhum tipo de preconceito. 

Quando a gente olha para fora, porém, vemos que ainda é um mercado que tem muito mais homens do que mulheres, mas que está em movimento. Quando vou a eventos, ainda vejo poucas mulheres e, nesse sentido, a gente tem que tentar tirar de letra. São pessoas que, ao ter um primeiro contato comigo, não sabem da minha trajetória… pode haver ali um primeiro impacto por eu ser mulher e também por ser jovem. Depois que fica claro que sei do que estou falando, mostrando que conheço do negócio e que consigo somar, não costumo ter problemas. 

Em outros casos, se eu percebo que alguém às vezes não está direcionando a conversa para mim, preferindo direcionar para o meu time, que é composto por homens, eu vou entrando do meu jeito, sempre de uma forma leve, deixando claro que o que eu tenho a falar também é importante, mostrando que estou no mesmo nível de conhecimento, e a partir daí a conversa flui.

Uma mulher puxa outra. Quanto mais mulheres tivermos em posições de liderança, mais vamos conseguir normalizar esse tipo de situação para que outras de nós não passem por nenhum tipo de desconforto. 

Minha dica é sempre tratar com leveza. Sabendo que esse ainda é um viés do setor, apesar de estar havendo mudança, podemos buscar nos posicionar sempre de maneira firme, mostrar que entendemos do assunto, que conseguimos agregar às conversas. Assim seguimos abrindo caminhos para que sejamos respeitadas, independente de gênero.

Durante esses anos, você tem notado evoluções na questão de igualdade de gênero? 

Sim. Atualmente a gente fala muito mais abertamente sobre diversidade, antes era um tema tratado de forma mais velada. Hoje, vemos que as empresas estão realmente se organizando estruturalmente para isso. 

Com a pandemia, conseguimos dar mais visibilidade para esses temas. A questão da tripla jornada da mulher foi muito discutida, porque é uma sobrecarga que a gente carrega e que ficou muito mais evidente com as pessoas trabalhando em casa. Como tem se falado mais sobre igualdade, esse assunto tende a naturalmente ir se normalizando. Tenho certeza de que vamos conseguir continuar seguindo nesse caminho para conquistarmos um ambiente cada vez mais justo não só para as mulheres, mas também para outras minorias sociais.

O que você acha que ainda falta melhorar para facilitar o ingresso e a atuação das mulheres no setor? A ALD possui iniciativas nesse sentido?

Na ALD, temos uma estrutura de diversidade. Quando abrimos processo de contratação, pelo menos um a cada três currículos deve ser do gênero feminino. Temos também um grupo de afinidade de gênero, do qual sou líder, e internamente buscamos, em todas as empresas do Grupo Société Générale (proprietário da ALD Automotive), mulheres para falar e inspirar mais mulheres. 

Quanto mais trouxermos mulheres para falar de experiência de carreira, tripla jornada e dar espaço para essas discussões, acredito que mais mulheres podem se sentir representadas e confiarem mais em si mesmas, vendo que elas podem pertencer a qualquer lugar em que desejem estar.

Na ALD temos outros grupos de diversidade, não só de gênero, então temos trabalhado para seguirmos evoluindo nessas questões.

Você tem alguma liderança feminina que te inspira? Em quem você se espelha na sua trajetória?

Uma mulher que sempre me inspirou foi minha mãe. Ela parou de trabalhar para criar os filhos e, aos 60 anos, se tornou empreendedora, tendo hoje uma loja de semijoias. É muita garra aos 60 anos você se propor a fazer alguma coisa diferente e começar do zero. 

Eu também tive grandes mulheres como chefes, líderes diretas que sempre me inspiraram. Onde trabalhei anteriormente, antes da ALD, tive a Lucila. Depois, quando entrei na ALD, tive a Bárbara Scotto, que ainda é uma superamiga, referência em gestão de equipes e em como se posicionar. 

Também me inspiro muito na Maria Baldin, sempre muito coerente e sagaz. Foi minha chefe direta e hoje trabalha na Movida. Ela é uma personalidade do setor, uma mulher extremamente inteligente e muito prática. Carrego comigo muito essa praticidade dela, de identificar um problema e pensar rápido numa solução. Sempre me inspirei muito nela.

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Patrícia Prando é diretora de operações a nível Brasil da ALD Automotive, líder mundial em soluções de mobilidade. Atualmente, a empresa possui uma frota de mais de 3 milhões de veículos que operam em mais de 40 países, com mais de 6 mil colaboradores.

 

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