Logística reversa é um conceito que se popularizou por aqui apenas nos últimos anos, mas que começou a ganhar corpo no Brasil há pelo menos três décadas.

Mais do que ser algo que trate do transporte de retorno, ela tem como pano de fundo a busca pela redução do impacto da produção de bens e do consumo sobre o meio-ambiente. Em outras palavras, ela nasceu com o intuito de ser ecologicamente correta.

O mais legal disso é que, como mostraremos ao longo deste artigo, a logística reversa também se apresenta como um diferencial competitivo. Se for bem estruturada, ela ajuda na redução de custos e até mesmo no incremento de receitas.

Entre os que já são familiarizados no assunto, sempre que falamos em logística reversa, os exemplos que surgem são o retorno das embalagens de agrotóxicos, de medicamentos que não se utilizou ou, ainda, de componentes eletrônicos, como pilhas e baterias.

Com o avanço do comércio eletrônico, contudo, esse aspecto do setor logístico ganhou importância também no pós-venda. Afinal, muitas vezes os clientes desistem de uma compra, solicitam a troca de um produto ou mesmo buscam auxílio para um conserto.

E empresas que fazem esse serviço de forma eficiente tendem a ter sucesso na redução de danos com o cliente, o que ajuda numa parceria de longo prazo.

De modo geral, podemos dizer que a logística reversa atua em duas frentes: no pós-venda e no pós-consumo. No Brasil, ela ainda serve para adequar empresas e prestadores de serviços à legislação.

Mas fique tranquilo: tudo isso a gente explica em detalhes a partir agora.

O que é logística reversa?

Apesar de o nome dar a entender que se trata da logística de retorno ou devolução de um produto, é preciso deixar claro desde já: o conceito de logística reversa é muito mais amplo.

Ela trata de todas as operações que se referem ao reaproveitamento ou descarte de algum produto. Assim, atua tanto no pós-venda quanto no pós-consumo.

A logística reversa ganhou força a partir da década de 1990, quando se passou a levar a sério as políticas de proteção ambiental.

Naquela época, as empresas se deram conta da importância da preservação do meio-ambiente tanto do ponto de vista do planeta, quanto dos próprios custos econômicos. Percebeu-se, por exemplo, que os recursos naturais eram limitados e que era preciso encontrar formas de não agredi-los – e também de reaproveitá-los.

Num primeiro momento, deu-se especial atenção à logística reversa de produtos como agrotóxicos, embalagens de produtos químicos, medicamentos, lixo hospitalar e pilhas e baterias.

Até então, as empresas vendiam os produtos e quem os comprasse descartava da maneira que bem entendesse. Perceba o risco à própria saúde humana e os danos ambientais que o descarte sem critério daqueles produtos poderia acarretar.

Com o passar do tempo, contudo, a logística reversa ganhou relevância nos mais variados ramos e setores. Podemos citar, por exemplo, a devolução de produtos com avarias, remessas incorretas, troca de aparelhos ou, em casos mais amplos, até mesmo os famosos recall de peças.

Ela também se tornou fundamental por estar prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que explicaremos na metade final deste artigo.

Importância da logística reversa

Não há exagero nenhum em dizer que a logística reversa se transformou em aspecto crucial nas relações de consumo.

Foi-se o tempo em que produtores e o comércio em geral tinham que se preocupar apenas com a venda de seus produtos. Seja por consciência ambiental, seja por necessidade de se adequar às leis vigentes (ou de mercado), ter um programa estruturado para a busca do que se vendeu é fundamental.

Veja o porquê, em seguida.

Pós-venda na logística reversa

Além de assegurar a destinação correta de materiais que possam ser nocivos à saúde e ao ambiente, pensar com cuidado nas condições de retorno de produtos também é um ponto importante do ponto de vista do aumento dos negócios. Afinal, pós-venda na logística reversa é um aspecto que cada vez recebe mais atenção dos clientes. E uma boa prova disso está nas compras online.

O comércio eletrônico já vinha em franco crescimento no Brasil, e ganhou um impulso adicional desde o início da pandemia. Para se ter uma ideia, um levantamento feito pelo Instituto de Defesa do Consumidor (IDC) apontou que nove em cada dez brasileiros já fazem compras online – o índice supera o da América Latina, que gira em torno de oito em cada dez consumidores.

A questão é que, se você tem o hábito de fazer compras online, sabe que infelizmente nem sempre o que se adquire chega da maneira que se esperava. Às vezes o produto necessita de troca, chegou em número diferente do previsto ou com avaria, para ficarmos só em alguns casos.

E aí entra outra estatística, e quem aponta dessa vez é a Ebit/Nielsen. Ela mostra que três em cada dez consumidores que adquirem um produto online pedem a devolução. O Código de Defesa do Consumidor estabelece que, nesses casos, cabe à empresa que vendeu a mercadoria a proceder com a logística reversa.

Sempre que a devolução do produto é feita de maneira simples e eficiente pelo consumidor que se frustrou pela compra, a chance de ele voltar a negociar com a mesma empresa aumenta. Por outro lado, se o serviço de logística reversa demorar, for mal feito ou causar transtornos, a probabilidade de ele voltar a negociar ou mesmo indicar aquela empresa cai muito.

Pós-consumo na logística reversa

Alguns dos exemplos desse tipo nós já citamos, como é o caso de empresas que fazem a logística de resíduos hospitalares, ou que recolhem medicamentos e embalagens de agrotóxicos. Mas há outros.

É cada vez mais comum, por exemplo, empresas que produzem equipamentos eletrônicos aceitarem produtos mais velhos como parte do pagamento de uma compra. Pense, por exemplo, nos famosos casos de “seu notebook velho serve de entrada para um novo”.

Não se trata de uma mera questão de marketing, mas sim uma oportunidade de se fazer reuso de peças e dar o devido descarte ao que não serve mais.

Editoras e empresas que têm o papel como matéria-prima também podem fazer acordos com seus clientes para buscar produtos encalhados. O mesmo vale para qualquer coisa passível de ser reciclada ou passar por reuso.

Em suma, a logística reversa serve para alertar que não se deve descartar nada sem critério.

Vantagens

Agora que você já sabe a importância de se trabalhar bem a logística reversa, vamos mostrar outro aspecto que fará você olhar com bons olhos para ela: as vantagens.

Diferencial competitivo

Empresas que oferecem bons processos de logística reversa são mais competitivas do que aquelas que não dispõem do serviço ou que o executam sem planejamento.

Conquistar clientes é uma missão difícil, e quando se consegue isso o passo fundamental é fidelizá-los. E isso é particularmente improvável de acontecer se sua experiência de compra for ruim.

Como sabemos, nenhum tipo de serviço está imune a falhas. Muitas vezes, o produto entregue não atende às expectativas e demanda devolução.

Para o cliente, ter a certeza de que a eficiência vista na entrega também existirá no momento de devolver faz muita diferença. Afinal, isso lhe dá segurança para realizar um negócio e saber que haverá amparo no futuro.

Além disso, empresas de transporte que pensam em boas estratégias de logística reversa abrem novas frentes de negócios. Afinal, elas podem negociar com diferentes clientes e aproveitar trajetos próximos para atender a mais de uma demanda.

Redução de custos

Estratégias eficientes de logística reversa levam à redução de custos operacionais, o que significa aumento de lucro ou, pelo menos, melhora no desempenho financeiro.

No caso que acabamos de citar, explorar bem as rotas garante respeito a acordos com os contratantes e, ao mesmo tempo, permite que se faça parceria com outros.

Há, contudo, outra forma de reduzir custos e aumentar as receitas com logística reversa: através do reaproveitamento. Isso sempre reduz as perdas com devoluções, e eventualmente pode servir como ponto de partida para novos negócios.

Quando alguém devolve um produto, na maioria dos casos eles não servem para simples descarte. Afinal, eles podem passar por manutenção e posterior revenda – economia circular é ponto importante do ponto de vista de atitudes sustentáveis. Também podem servir para reciclagem ou mesmo como fonte para se reaproveitar itens.

Adequação à lei e responsabilidade compartilhada

Em 2010 o Brasil estabeleceu sua Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

A PNRS propõe a prática de hábitos de consumo sustentáveis, e se destina tanto a empresas quanto a pessoas físicas.

Ela parte da premissa que todo tipo de resíduo precisa de um descarte correto. E temos exemplos corriqueiros dentro de nossa própria casa.

Atualmente, é bastante comum que façamos o descarte do lixo de forma a pensar em sua reciclagem. É bem provável que o condomínio onde você mora ou a empresa em que você trabalha exija a separação dos resíduos orgânicos dos secos. Em muitas ocasiões, o lixo seco ainda precisa ser separado em papel, metal, vidro e assim por diante.

Em maior escala, há toda uma legislação voltada ao descarte de produtos químicos, rejeitos de minérios, agrotóxicos, resíduos hospitalares e assim por diante.

O pano de fundo da Política Nacional de Resíduos Sólidos é a ideia da responsabilidade compartilhada. A premissa aqui é que toda a cadeia – do produtor ao consumidor final, passando por quem vende e por quem transporta – tem responsabilidade sobre um produto.

Ao pensar dessa forma, o legislador tinha como objetivo procurar reduzir ao máximo a produção de lixo ou resíduos que não pudessem ser reaproveitados. Afinal, tudo isso agride a natureza e, no fim das contas, representa perda de recursos financeiros.

E onde a logística reversa se insere aqui? Simples: em um conjunto de ações que facilite a coleta dos resíduos sólidos para que eles sejam entregues às empresas capazes de fazer seu reaproveitamento.

Exemplos de logística reversa

Entre os exemplos de logística reversa, dois costumam ser destacados: a logística reversa de medicamentos (uma obrigação legal) e a logística reversa Natura (um bom case do mundo dos negócios).

Logística reversa de medicamentos

O sistema de logística reversa de medicamentos já existia, mas passou por mudanças em 2020, com o decreto nº 10.388. Ele trata de medicamentos domiciliares que já venceram ou que ficaram sem uso.

A ideia por trás da logística reversa de medicamentos é bastante simples. O que se quer é que se faça um gerenciamento de todas as etapas de transporte dessas drogas após o descarte na farmácia.

Como se sabe, medicamentos cujo prazo de validade já expirou ou não têm mais função não podem simplesmente ser descartados no lixo comum. É preciso levá-los a postos de recolhimentos em farmácias.

O decreto de 2020 trata justamente da logística a partir daí até a unidade de tratamento e destinação final.

Basicamente, o que se quer é que empresas farmacêuticas busquem os remédios descartados nas farmácias e os leve até locais para destruição de forma adequada, como incineradores, coprocessadores ou lixões homologados pelas entidades ambientais.

Vale ressaltar que a logística reversa de medicamentos trata exclusivamente disso. Ela não se aplica a materiais de uso hospitalar ou clínicas.

Logística reversa Natura

A Natura é uma das maiores empresas de cosméticos do Brasil e, em 2020, implantou um sistema de logística reversa que é um verdadeiro case. Ao melhor estilo de responsabilidade compartilhada, ela convida os clientes a devolverem as embalagens de seus produtos.

A ideia por trás desse conceito de logística reversa não é criar uma cultura sustentável.

A Natura já possuía um viés sustentável ao promover a oferta de refil para seus produtos. O sistema por si só leva vantagem às duas pontas: à própria empresa, que vende mais; e ao consumidor, que consegue comprar o produto por um preço mais em conta.

Assim, ao promover o sistema de logística reversa, a empresa convida seus clientes a descartarem de maneira correta milhões de embalagens plásticas, que são enviadas para posterior reciclagem.

Em menos de um ano e meio, a iniciativa garantiu a coleta de 20 toneladas de embalagens plásticas apenas por parte dos consumidores. Segundo a empresa, todos os anos, 925 toneladas de plástico são reciclados e usados para armazenar seus produtos.

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